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Opinião: Um rali com Bernardo Sousa e outro em Ourense
22/06/2022 19:52
José António Marques / Foto: António Garcia

O passado fim de semana ficou marcado por duas importante provas de ralis na Península Ibérica, uma em Lisboa e outra em Ourense.

O Rali de Lisboa é naturalmente importante por ser na capital, mas com a presença de Bernardo Sousa no seu atual momento assumiu proporções gigantescas.

O rali de Ourense é uma das mais importantes provas de ralis em Espanha, por estar num centro de aficion de ralis que é a Galiza, mas também porque é organizado de forma muito competente pelos homens da Escuderia Ourense que tornam o rali numa festa da cidade.

O rali de Lisboa mostrou o quanto os ralis são uma modalidade de quase terceiro nível em termos de visibilidade em Portugal. O CPKA foi buscar Bernardo Sousa e toda a sua visibilidade resultante da vitória no Big Brother, e isso deu um impulso tremendo à prova. E poderia ter sido ainda maior se o organizador tivesse explorado ainda mais esta presença.

A simples transmissão em streaming da super-especial teve dez vezes mais visualizações que uma super-especial do CPR. Muita gente a ver os troços, muita gente na zona de partida e chegada e muita gente para ver Bernardo Sousa, e claro uma notícia em horário nobre na TVI que é coisa que os ralis não tem há décadas, com a exceção do Rali de Portugal ou de um rali com acidente. O rali de Lisboa ganhou imenso com isto, e os ralis no geral também, e até a presença do Campeão Mundial de Junior - Sami Pajari - passou para um segundo plano quase impercetível.

O Rali de Lisboa foi um excelente exemplo da visibilidade que os ralis precisam de ter. Mas mais surpreendente disto tudo é a quantidade de gente que vê de forma negativa esta visibilidade em torno de Bernardo Sousa num rali. Os ralis precisam de visibilidade fora do seu habitual público, e o efeito Bernardo Sousa dá tudo isso. É indiscutível, e no momento atual é absurdo que alguém veja isto como negativo.

Mas em Lisboa assistimos a três ralis num só, três vencedores, três classificações distintas, uma problemática antiga mas que se teima em não resolver, antes pelo contrário. Reparem que Sami Pajari, na sua publicação nas redes sociais, teve de se explicar que tinha vencido um rali mas não tinha vencido o rali de Lisboa. Algumas vez ele fez isso ao comunicar uma vitória no WRC Junior? Nunca!

Continuamos com esta situação surreal ano após ano, em que num rali onde alinham Porsches, R5s, Mitsubishis Lancer Evo e o vencedor do rali é... um Peugeot 106 numa prova que ainda por cima só teve metade do percurso. Sim, muitos pilotos alegam que o Campeonato Start Sul de Ralis foi a principal competição em prova lisboeta!

E Em Ourense? Bem, para começar em Ourense há um vencedor de um rali onde corre todo o tipo de carros, não sendo necessário dividir provas nem classificações. Perceber o rali é simples, não é necessária formação especializada.

Mas em Ourense, a cidade de 100.000 habitantes viveu um fim de semana de festa em torno do seu rali. Uma partida simbólica em pleno coração da cidade (na foto), uma super-especial, um rali bem disputado, um conjunto de atividades paralelas onde até os pilotos foram convidados a fazer a pé um troço dos Caminhos de Santiago.

O rali de Ourense durou três dias, tal como Castelo Branco uma semana antes, mas ao contrário de Castelo Branco não houve reclamações. E porquê? Porque quem vai ao Rali de Ourense sente que vai a uma festa de três dias na cidade, e quem vai a Castelo Branco sente que vai a um rali de três dias que poderia ter apenas dois e já seria muito. É claro que o facto de Castelo Branco ter 1/3 da população de Ourense também conta para esta diferença.

E isto leva-me a questionar o quanto os ralis nacionais estão afastados das grandes cidades. Fafe tem o Europeu de ralis, mas o comum dos cidadãos de Guimarães não sabia que havia rali. Se calhar uma partida em Guimarães ou uma super-especial em Guimarães daria muito mais visibilidade à prova e os homens do Europeu iriam gostar.

O Rali Vidreiro não vai a Leiria há anos. O Rali de Mortágua organizado pelo Clube Automóvel do Centro nunca teve passagem por Coimbra, situação que lhes daria uma enorme visibilidade junto do público que não é adepto de ralis. Sim, temos de fazer tudo para levar os ralis ao público de fora dos ralis, porque o público dos ralis vai onde forem as provas, e esse público de ralis é cada vez menos numeroso.

Um belo exemplo do que aqui é referido é o Constálica Rali de Vouzela, que este ano terá a sua cerimónia de pódio em Viseu em plena Feira de S. Mateus. A cerimónia de final do rali terá mais publico a assistir do que toda a restante prova.

Atualizada às 09.58 de 23/06/2022 com a adição do ultimo parágrafo
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